18 novembro 2012

LIFE DRAWING: abordagens sobre desenho de modelo vivo

Olá pessoal, bem vindos à minha primeira publicação no G&I, meu nome é 1berto Rodrigues e sou diretor de animação 3D no estúdio INK, em Manaus.

Este ano tive duas oportunidade de ter aulas de desenho de modelo vivo (life drawing) com duas grandes figuras do assunto: 

  • Samantha Youssef: animadora canadense dona do Estudio Tecnique, em Montreal, onde se dedica a treinar animadores em life drawing, com passagem por companhias como Disney e Ubisoft, com muita experiência em direção de animação e design de personagens.




  • Glenn Vilppu: desenhista Finlandês que vive em Los Angeles e é uma lenda na área, dedicou quase todos os seus 76 anos no estudo e desenvolvimento de técnicas de desenho renascentista, estilo no qual opera com uma habilidade quase que hipnotizante aos olhos. Foi professor de figuras como Gleen Keane e também é ex-coordenador da famosa escola CalArts.





Depois das duas experiências o melhor é poder comparar as diferenças e semelhanças nas abordagens de cada um, muitas divergências artísticas e muitas semelhanças técnicas que fazem de ambos profissionais de primeira linha em suas áreas.

Falando em semelhanças e começando a ser mais descritivo, acho que é unânime que se você quer evoluir sua técnica de desenho deve levar seu sketchbook para todo lugar e desenhar muito, sem parar, sempre que tiver a oportunidade, é no dia-dia que encontramos os personagens mais interessantes para fazer nossas observações. Depois de certo tempo fica mais fácil desenhar a partir da imaginação com mais facilidade, o que é essencial se você trabalha com desenho.





Tecnicamente, é bom começar sobre seu material. O papel de gramatura mais alta sempre ajuda se você gosta de expor ou escanear para depois usar o desenho sem edição. O papel reciclado dá efeitos interessantes e possibilita, assim como todo papel mais escuro, que você use lápis branco para o brilho(highlights). Uma borracha ótima para acompanhar você no processo é o limpa-tipo, que é maleável e ótima para lápis mais leves. Os lápis são de preferência do desenhista, variando de grafite cru até lapiseiras.


O meio termo é ter vários lápis macios e alguns mias leves, como os da família HB e H. Muito importante sobre os lápis é também ter um de tom sanguíneo, para o traço principal e o tom de modelagem, que consiste em colocar diversas hachuras gradualmente mais forte na medida que a superfície não aponta para os seus olhos. O lápis preto normal pode ser usado para completar o desenho fazendo as sombras da iluminação, que poderá ser direta ou indireta. Para completar, o branco que, como citado, é usado para o brilho. Os três tons juntos dão um acabamento muito atraente para o desenho.

Segurar o lápis como se escreve ajuda a fazer detalhes pequenos mas na maioria do tempo você vai segura-lo  como uma faca, tendo ele entre seus dedos apontando pra cima apoiando o dedo sobre o papel, isso faz com que dosar a força do traço fique mais fácil. Aponte o lápis usando uma lâmina, pois a ponta deve ficar bem longa para facilitar o processo.





O modelo também é muito importante, não é em todo lugar que você irá encontrar modelos dispostos a posar nus e que saibam manter boas posições por longos períodos de tempo.
Geralmente as modalidades são posições de 1, 3, 5 e 10 minutos:
  • 1 minuto: suficiente para a linha de ação e esboços da construção do corpo;

  • 3 minutos: dá para chegar a uma idéia do que seria o desenho final;



  • 5 minutos: tempo para definir a anatomia toda;

  • 10 minutos: com habilidade e treino dá para finalizar um desenho;




Considere que aqui estou falando só no desenho das formas, sem luzes ou detalhes como tons de modelagem. Mantenha um ritmo que lhe agrade e nunca se apresse, isso prejudicará o resultado. Pense em cada linha que você põe no papel e evite uma profusão de pequenos traços, substitua-os por um estilo mais conciso e limpo.

Os dois instrutores que tive este ano divergem artisticamente uma vez que Samantha sugere que você se livre de vícios e se esforce para desenhar exatamente o que está na sua frente, Vilppu defende a liberdade para mudar detalhes em nome da melhoria dos resultados e, como ele mesmo diz, o importante é você aglutinar características de todos com quem você aprende e transformar naquilo que funcione melhor pra você.

Há alguns passos que, tentando fundir o que há de melhor em cada um, resultam em uma boa seqüência para a execução do desenho:
  1.   Linha de ação: comece com uma linha que descreva a direção principal da ação do modelo, pode ser do dedo do pé até o dedo que aponta ou a curva formada pela envergadura dos braços, é uma linha, geralmente curva, que sintetiza a intenção principal da ação do modelo;
  2.   Esqueleto: agora é hora de "esqueletar" o desenho, uma linha para a coluna, uma forma oval para as costelas, que é a parte fixa do tronco e por fim uma reta perpendicular a coluna para definir a direção dos quadris e outra para os ombros. em seguida pode se esboçar a forma dos músculos dos membros, assim como a posição dos pés e mãos. Por fim, outra forma oval para a cabeça.
  3.   Landmarks: são marcações de partes do corpo que nunca (ou quase nunca) são cobertas por carne ou gordura, como o centro das clavículas, assim como suas pontas nos ombros. cotovelos, o alto da parte lateral dos quadris na frente e atrás. isso ajuda a definir a forma final e clareza da posição.
  4.   Comece a desenhar as formas do corpo, esboce o rosto e os músculos do tronco, em seguida a pele, contornando a gordura acumulada nas dobras, que devem ter uma atenção especial para prover realismo.
  5.    Realce as formas finais e então parta o acabamento, o tom de modelagem, luz e brilho.


Este breve resumo deve servir para que você se interesse e tenha base para buscar mais informações sobre cada etapa, técnica e material descrito aqui, existe um mundo inteiro de conhecimento dentro de life drawing. Como trabalho com animação é essencial para mim que saiba o funcionamento do corpo e é assim que se adquire conhecimento sobre onde se encontra o peso em cada posição, se observa os trejeitos das pessoas, que membros se mexem para determinada ação, que músculos se contraem, como o quadril vai para o lado para equilibrar o peso do tronco inclinado, pequenas grandes coisas que fazer toda a diferença.

Espero que o compartilhamento dessas experiências seja proveitoso, boa sorte e até a próxima.

Um comentário:

  1. boas dicas, tanto para iniciantes quanto para os experientes. veleu 1berto!

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